Nascido em Jerusalém, em 1939, Amos Oz é um dos mais conceituados romancistas contemporâneos, estando a sua obra traduzida em praticamente todo o mundo. Em 1991, foi eleito membro da Academia da Língua Hebraica.
Para além de A Terceira Condição, no catálogo da ASA estão já publicados os seus romances Não Chames à Noite Noite, Uma Pantera na Cave, O Meu Michael, O Mesmo Mar e Uma História de Amor e Trevas.
No pequeno mais gigante livro Contra o Fanatismo, Amos Oz ergue-se contra todas as formas de ação violenta de quem pretende impor uma (válida porque é sua) ideia aos outros. Vale a pena ler!
« Quando formulei ou gravei a expressão «Faz a paz, não o amor», por certo não predicava contra fazer amor. Mas tentava, isso sim, acabar de alguma forma com essa confusão sentimental de paz e amor e irmandade e compaixão e perdão e concessão e por aí fora, que leva as pessoas a pensar que bastaria que os maus rapazes largassem as armas para o mundo se transformar de imediato num maravilhoso e adorável lugar. Dá-se o caso de eu acreditar que o amor é um bem raro. Penso que um ser humano, ao menos pela minha experiência, pode amar dez pessoas. Se for muito generoso, pode amar vinte pessoas. Se for extraordinariamente afortunado pode ser amado por vinte pessoas. Se alguém me dissesse que ama a América Latina, ou que ama Terceiro Mundo, seria pouco convincente para ser real. Como há muitos anos os Beatles se lamentavam, «não há amor suficiente para fazer girar o mundo». Não acredito que o amor seja a virtude com a qual se resolvem os problemas internacionais.
Precisamos de outras virtudes. Precisamos de sentido de justiça, mas também de senso comum; precisamos de imaginação, de uma habilidade extrema para imaginar o outro, para, às vezes, nos metermos na pele do outro. Precisamos da capacidade racional para nos comprometermos e, por vezes, fazermos sacrifícios e concessões. Mas não precisamos de nos suicidar em favor da paz. «Vou matar-me para que sejas feliz. Ou «Quero que te mates porque isso me fará feliz». Estas duas atitudes não são diferentes. Estão mais próximas uma da outra do que se julga.
No meu ponto de vista, o contrário de guerra não é amor, e o contrário de guerra não é compaixão, e o contrário de guerra não é generosidade ou irmandade ou perdão. Não, o contrário de guerra é paz. As nações precisam de viver em paz. Se vier a ver o Estado de Israel e o Estado da Palestina a viverem lado a lado como vizinhos honestos, sem opressão, sem exploração, sem derramamento de sangue, sem terror, sem violência, ficarei satisfeito mesmo que não prevaleça o amor. E como diz o poeta Robert Frost: «Uma boa cerca faz bons vizinhos.»
Amos OZ, Contra o Fanatismo, Asa Literatura, 2002. pág.44-46
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