quinta-feira, abril 16, 2020

ADEUS A LUIS SEPULVEDA


     O mundialmente conhecido escritor chileno Luís Sepúlveda faleceu hoje, 16 de abril, aos 70 anos, em Oviedo, Espanha, na sequência de complicações provocadas pelo covid 19.
     O autor mantinha uma relação de familiaridade com Portugal, que chegou a visitar várias vezes ao longo dos anos. Em fevereiro de 2020, tinha estado presente com a mulher, a poetisa Carmen Yañez, no Festival Literário Correntes d’Escritas na Póvoa de Varzim. Os primeiros sintomas de covid19 manifestaram-se a 25 de fevereiro. Dois dias depois. Luís Sepúlveda foi internado no hospital na cidade de Oviedo, onde residia há mais de vinte anos.

    Luís Sepúlveda publicou mais de vinte obras: romances, crónicas, novelas e fábulas para crianças traduzidos em mais de sessenta línguas. Mas, para além de romancista, foi também realizador, roteirista, jornalista e ativista ambiental e político. A sua obra, fortemente marcada pelo empenho político e ecológico assim como pelo combate à repressão das ditaduras dos anos 70, mistura o gosto pelas viagens e o seu interesse pelos povos autóctones.

     Luís Sepúlveda teve, de facto, uma vida cheia, atribulada e aventureira. Nasceu em Ovalle, no Chile, a 4 de Outubro de 1949. O seu pai era militante do Partido Comunista e proprietário de um restaurante. A mãe era enfermeira. Cresceu no bairro San Miguel de Santiago e estudou no Instituto Nacional, onde começou a escrever por influência de uma professora de História.

    Em 1969, venceu o Prémio Casa das Américas com o seu primeiro livro Crónicas de Pedro Nadie.
        O seu primeiro romance, O Velho Que Lia Romances de Amor (1992) trouxe-lhe renome internacional. Foi traduzido em trinta e cinco línguas e adaptado para o grande ecrã, em 2001, por Rolf de Heer.
     Envolveu-se em causas políticas depois de ter sido expulso da Juventude Comunista, inscreveu-se no Partido Socialista Chileno, o que o levou à Unidade Popular (que vencera as eleições de 1970). Durante o regime ditatorial, brutal e repressivo do general Augusto Pinochet, após julgamento, Luís Sepúlveda foi condenado a vinte e oito anos de prisão.

     Contudo, só ficou dois anos e meio na prisão política de Temuco. Em 1977, graças à intervenção da Amnesty International, Luís Sepúlveda foi libertado, tendo a sua pena de vinte e oito anos sido comutada em oito anos de exílio na Suécia.

      Mas, desrespeitando o acordo, o jovem Luís Sepúlveda preferiu viajar e trabalhar em vários países da América Latina: Equador, Peru, Brasil, Colúmbia e Nicarágua. 
       Em 1978, partilhou durante um ano a vida dos índios Shuar, na Amazónia, no quadro de um programa de estudo da UNESCO, para se determinar o impacto da colonização sobre esse povo. Foi amigo de Chico Mendes, herói da defesa da Amazónia. Luís Sepúlveda dedicou-lhe o livro O Velho Que Lia Romances de Amor, o seu maior sucesso. 
      A partir de 1982, Luís Sepúlveda instalou-se na Europa, primeiro na Alemanha, em Hamburgo como jornalista, viajando frequentemente até a América do Sul e África. Ativo defensor do ambiente trabalhou com a organização Greenpeace de 1982 a 1987.

       Em 1997, instalou-se com a mulher, a poetisa Carmen Yañez, em Gijón, nas Astúrias, no norte de Espanha. 

      Sagaz narrador de viagens e aventureiro nos confins do mundo, Luís Sepúlveda concilia habilmente a descrição de lugares e paisagens irreais com a narração de histórias de grande humanidade, baseando-se na sua experiência da vida, nos seus sonhos e nas suas esperanças.

     Luís Sepúlveda gostava muito de gatos: são de destacar os livros História de uma gaivota e do gato que a ensinou a voar (1996) e História de um gato e de um rato que se tornaram amigos (2012), magistralmente ilustrados respetivamente por Sabine Wilharm e Paulo Galindro.
      Em 2016, recebeu o Prémio Eduardo Lourenço.

     O seu prematuro desaparecimento representa uma grande perda para todos os que gostam de belas histórias evocando valores humanos nobres, de uma grande e perene fraternidade.

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