segunda-feira, março 11, 2013

SEMANA DA LEITURA 2013: MARÉ ALTA DE PALAVRAS


    Começou hoje, e termina a 15 de março, a Semana da Leitura 2013, varanda virada para o MAR. A Biblioteca Pedro Seromenho fez-se também ela ao mar, com uma ânsia de caravela.

VIAGEM DE UMA BIBLIOTECA

DIÁRIO DE BORDO

"Homem livre, tu sempre gostarás do mar"
Charles Baudelaire

Segunda-feira, 11 de março de 2013 

     O nosso barco, carregado de livros, está de saída. Segue pelo oceano da imaginação, tão concreto e real como o mar que bebemos com os olhos, naquelas tardes de verão sem fim...
        É o início de uma grande aventura, ao longo da Semana da Leitura.  


OCEANO NOX

Junto do mar, que erguia gravemente 
A trágica voz rouca, enquanto o vento 
Passava como o vôo do pensamento 
Que busca e hesita, inquieto e intermitente, 

Junto do mar sentei-me tristemente, 
Olhando o céu pesado e nevoento, 
E interroguei, cismando, esse lamento 
Que saía das coisas, vagamente... 

Que inquieto desejo vos tortura, 
Seres elementares, força obscura? 
Em volta de que idéia gravitais? 

Mas na imensa extensão, onde se esconde 
O Inconsciente imortal, só me responde 
Um bramido, um queixume, e nada mais... 

                      Antero de Quental, in "Sonetos"

 Mas chega de lamentos! Já se ouvem as gaivotas... nesta bela canção do grupo Renaissance, Sounds of the Sea:
                                                       

     

 É tempo de navegar! Levamos o Fausto connosco, para animar a tripulação:



  Mas o mar sem fim é misterioso.Cruzaremos, talvez, o Mostrengo que vislumbrou Fernando Pessoa:


O MOSTRENGO

O mostrengo que está no fim do mar
Na noite de breu ergueu-se a voar;
À roda da nau voou trez vezes,
Voou trez vezes a chiar,
E disse: «Quem é que ousou entrar
Nas minhas cavernas que não desvendo,
Meus tectos negros do fim do mundo?»
E o homem do leme disse, tremendo:
«El-rei D. João Segundo!»

«De quem são as velas onde me roço?
De quem as quilhas que vejo e ouço?»
Disse o mostrengo, e rodou trez vezes,
Trez vezes rodou immundo e grosso.
«Quem vem poder o que só eu posso,
Que moro onde nunca ninguém me visse
E escorro os medos do mar sem fundo?»
E o homem do leme tremeu, e disse:
«El-rei D. João Segundo!»

Trez vezes do leme as mãos ergueu,
Trez vezes ao leme as reprendeu,
E disse no fim de tremer trez vezes:
«Aqui ao leme sou mais do que eu:
Sou um povo que quere o mar que é teu;
E mais que o mostrengo, que me a alma teme
E roda nas trevas do fim do mundo,
Manda a vontade, que me ata ao leme,
D' El-rei D. João Segundo!»

Fernando Pessoa, in Mensagem



     O poema dito por João Villaret, é assombroso:



    Atravessaremos tempestades que só no mar que grita, se contorce e se agita, existem, como muito bem sabe Alberto de Oliveira. O mar tem sofrimentos de poeta.

O Mar Agita-se, como um AlucinadoO Mar agita-se, como um alucinado: 
A sua espuma aflui, baba da sua Dor... 
Posto o escafandro, com um passo cadenciado, 
Desce ao fundo do Oceano algum mergulhador. 

Dá-lhe um aspecto estranho a campânula imensa: 
Lembra um bizarro Deus de algum pagode indiano: 
Na cólera do Mar, pesa a sua Indiferença 
Que o torna superior, e faz mesquinho o Oceano! 

E em vão as ondas se lhe enroscam à cabeça: 
Ele desce orgulhoso, impassível, sem pressa, 
Com suprema altivez, com ironias calmas: 

Assim devemos nós, Poetas, no Mundo entrar, 
Sem nos deixarmos absorver por esse Mar 
— Pois a Arte é, para nós, o escafandro das Almas! 

                           Alberto de Oliveira, in "Bíblia do Sonho"




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