segunda-feira, outubro 08, 2018

SARAMAGO DA AZINHAGA


No dia 8 de outubro de 2018, comemoram-se os 20 anos da atribuição do Prémio Nobel da Literatura ao escritor português José Saramago, então com 76 anos de idade, e até agora simultaneamente primeiro e único Prémio Nobel que distinguiu a literatura em lusa língua.

José Saramago em Lanzarote com  a sua mulher Pilar del Río.
 
Nesse ano de 1998, José Saramago, desiludido com Portugal, residia na distante ilha de Lanzarote, nas Canárias, com a sua mulher Pilar del Río, jornalista e tradutora espanhola, com quem casara em 1988.
 
José Saramago com Pilar del Río.

Fundação José Saramago, na Casa dos Bicos, em Lisboa.


Após ter ido receber o Prémio Nobel a Estocolmo, na Suécia, onde, no dia 7 de dezembro de 1998, fez um emocionante discurso onde evocou a sua infância e os seus avós maternos Josefa e Jerónimo, pobres mas sábios, José Saramago voltou no dia 16 de dezembro à sua pequena vila ribatejana natal, Azinhaga, no concelho da Golegã, para celebrar juntos dos seus o ilustre prémio recebido.
Assim começa o belo discurso então proferido:

" O    homem    mais    sábio    que    conheci    em    toda    a    minha    vida    não    sabia    ler    nem    escrever.    Às  quatro    da    madrugada,    quando    a    promessa    de    um    novo  dia    ainda    vinha    em    terras    de    França,    levantava‐se    da    enxerga    e    saía    para    o    campo,    levando    ao    pasto    a    meia    dúzia    de porcas    de    cuja    fertilidade    se    alimentavam    ele    e    a    mulher.    Viviam    desta    escassez    os    meus   avós    maternos,    da    pequena    criação    de    porcos    que,    depois    do    desmame,    eram    vendidos aos    vizinhos    da    aldeia.    Azinhaga    de    seu    nome,    na    província    do    Ribatejo. Chamavam-se   Jerónimo     Melrinho     e     Josefa     Caixinha     esses     avós,     e     eram     analfabetos     um     e     outro. "   


Saramago, José, Discurso de Rececão do Prémio Nobel


Com efeito, embora tenha abandonado a sua terra natal (onde nasceu a 16 de novembro de 1922) com dois anos de idade para Lisboa com os pais, aí residindo grande parte da sua vida, José Saramago foi sempre fiel às suas origens, às suas raízes. Saramago, alcunha da família, é também uma erva bem boa para comer à falta de hortaliça.



Foi Vítor Guia, então Presidente da Junta de Freguesia, que convenceu um relutante José Saramago a aceitar uma estátua, ainda em vida, na vila da Azinhaga. 


Hoje, José Saramago tem também uma rua com o seu nome, que cruza com outra que tem o nome da sua mulher, Pilar del Río. De notar que a sua mulher dirige a Fundação José Saramago instalada na Casa dos Bicos em Lisboa, desde 2012.



Na vila da Azinhaga, a imponente estátua de bronze que retrata José Saramago impressiona pela sua dimensão, já que é maior do que a do homem que  representa. O escritor está sentado, de pernas cruzadas, num banco de jardim e, concentrado,  lê um livro aberto que uma mão firme segura. Ou seja a estátua representa o escritor/leitor.

O vosso Capitão Kispo já se deslocou à Azinhaga para honrar a memória deste grande escritor, bem como à sua Fundação, na Casa dos Bicos, em Lisboa. São dois lugares incontornáveis para quem pretende conhecer melhor a vida e a obra de José Saramago.

 
A pequena vila da Azinhaga, atravessada pelo rio Almonda, a infância e a adolescência de José Saramago são evocadas no livro “As Pequenas Memórias” (2006). Um livro de vidas simples, humildes, duras, em contacto com a natureza. Um dos livros mais pessoais e comoventes de José Saramago.



Vale a pena ler ou reler os livros deste escritor ímpar, de grande valor humano, com um estilo próprio inconfundível e um olhar crítico sobre o mundo, e visitar a vila da Azinhaga onde flutuam nas ruas, nos edifícios, nas casas, no ar, nas margens verdejantes do Almonda, o espírito inconformado e a memória sempre viva e próxima de José Saramago. E fica tão pertinho de Tomar...
 



Fontes: 
Margato, Cristina, As Palavras que Saramago não Escreveu, Revista do Semanário Expresso, Edição 2397, 5 Outubro de 2018.
Para saber mais sobre José Saramago




Sem comentários:

Enviar um comentário